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Dia 1 de quarentena: este é o texto que nunca pensei escrever

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Vejo o Mundo ser engolido por uma guerra gigante contra um inimigo invisível, do qual se sabe ainda tão pouco e que tem um poder devastador cada vez maior. Vejo, não assisto. Tenho o papel, temos todos, de fazer tudo o que seja possível para contrariar a propagação deste vírus do qual ainda se sabe tão pouco mas que cada vez somos mais obrigados a tratar por tu. O longe da China tornou-se perto na Europa, vizinho em Espanha e na porta do lado, em Portugal.

Hoje é o dia 1 para muita gente. As escolas fecharam, grande parte das empresas está em teletrabalho ou serviços mínimos. Um mês, anunciaram. Será mais, desconfiamos todos. Será certamente tempo suficiente para sabermos que todas as famílias de Portugal e do Mundo passam neste momento, pela primeira vez na história das suas vidas, por uma readaptação de todos os seus hábitos e rotinas para a qual nunca foram preparadas.

Cada um de nós terá desafios totalmente novos pela frente: a gestão de uma casa onde passaremos 24h dos nossos dias (quanto pó e louça vamos acumular mais?); o conciliar de horários e pedidos de trabalho (com crianças a trepar-nos pelas pernas); a preparação de todas as refeições em casa (para quanto vamos ter que ajustar as nossas despensas e tempo para cozinhar para toda a família?); a incerteza do abastecimento das compras em casa (esperemos que nos deixem um pacote de papel higiénico!); o ar livre, a liberdade, os jardins, os parques, as esplanadas, o cheiro a mar, os restaurantes, o contacto. As saudades do contacto e proximidade da família e amigos.

Mas o que escrevo, que será a minha realidade se a tiver sorte do inimigo não tocar à nossa campainha, são só coisas boas com a enorme exceção do motivo.

É novo, tudo novo. Pode ser mais cansativo nuns dias, com menos tolerância noutros, mas estaremos na nossa própria casa, com as pessoas que mais amamos, teremos comida (mais atum ou menos ervilha), conforto e muito carinho, loucura, gargalhadas, abraços e beijos que só entre quatro paredes poderão ser dados sem medida.

A verdadeira guerra está a ser travada lá fora. Enquanto muitos nem o vento podem ou querem sentir, outros estão todos os dias nos campos de batalha chamados hospitais. A nossa família tem várias pessoas de família de sangue e de coração na equipa médica, de enfermagem e técnica. O desafio é deles, todo deles. Que deixam a sua própria casa e família e vão. Com mais ou menos medo, mais ou menos coragem, com a preocupação nas mãos e a responsabilidade no peito. Deixam a sua família em casa e saem para travar esta batalha por nós.

Que não seja em vão e façamos nós aquilo que podemos: ficar em casa para evitar que o vírus se espalhe, cuidando dos nossos o melhor que podemos.

Esta é a minha família em quarentena: 2 adultos em teletrabalho, 2 filhas para cuidar: uma em idade escolar, outra com idade de fraldas e colo. Provavelmente partilharei alguns dos nossos momentos. Estamos há 4 dias em casa.

Que o medo e a inércia não nos trave e não nos falte a vontade de criar momentos preciosos para o crescimento e união da nossa família, criatividade para nos reinventarmos a um espaço confinado e muito menos a alegria das pequenas coisas.

 

* O desenho é uma iniciativa internacional que está a decorrer para as crianças pintarem um arco-irís com a frase “Vamos todos ficar bem” e colarem nas janelas.

Vamos todos ficar bem. ❤

O quanto eu quero acreditar nisto…!

 

 

 

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